quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cheiro de Armação

O Jornal Nacional, da Rede Globo, promoveu nesta semana sabatinas com os três principais candidatos a presidente. O casal de apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes conduziu as entrevistas, programadas para durar 12 minutos.

Na segunda-feira, foi a vez de Dilma. A entrevista foi marcada pela truculência dos dois jornalistas, que interrompiam a todo instante a candidata e faziam a ela, ao governo Lula e ao PT uma série de acusações: mensalão, alianças, sua eventual má educação. Bom, era possível pensar, neste primeiro dia, que jornalismo é isso mesmo, nada de dar moleza ao entrevistado, nada de postura chapa branca. Dilma, aliás, saiu-se muito bem, respondendo com firmeza e sem entrar no clima pretendido por Bonner e Bernardes.

Veio à sabatina com Marina, no dia seguinte, e o tom mudou. A candidata foi questionada menos por suas propostas e mais por ter feito parte do governo do PT. Pobre Marina acabou entrando no jogo, por inexperiência ou escolha, e cometeu pelo menos uma omissão grave: ao responder sobre as condições de infraestrutura do Brasil, deixou de dizer que o apagão, mencionado pelos entrevistadores, tinha ocorrido durante o governo FHC e não no de Lula.

Na quarta-feira, a sabatina com Serra. É quase impossível evitar a conclusão de que o casal global limitou-se a levantar a bola para o tucano cortar. Não que Serra tenha se saído bem nessa função. Não se saiu. Mas não é este o ponto. O que chamou a atenção foi a cordialidade entre entrevistadores e entrevistado e a suavidade com que alguns temas polêmicos foram tratados.

Ao comentar sobre a sabatina com Dilma, Lula disse que faltara delicadeza aos jornalistas, por Dilma ser mulher. Talvez o presidente tenha razão e as sabatinas tenham expressado um mal disfarçado machismo.

Acredito, porém, que mais do que isso o que veio à tona foi a preferência não declarada por um dos candidatos.

Há 21 anos, o mesmo Jornal Nacional fez uma edição escancaradamente parcial do debate final entre Lula e Collor. Como nunca se fez uma autocrítica, é lícito pensar que, mais uma vez, a Rede Globo usa sua grande audiência para tentar manipular a opinião pública.

 
O BRASIL NÃO PODE PARAR !
Roberto Elias Salomão

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